Imagem Ilustrativa tirada da da internet
A Comunidade Aliança que
antes era composta apenas pelos bairros 31 de Março e Santo Antonio – onde
estão localizadas as antigas “Rua do Olho D’àgua”, “da Cadeia” e “do
Matadouro”, hoje, ocupa o território formado pelos bairros Prefeito Jaime da
Costa Pereira (antigo 31 de Março), Antonio Mariz – carinhosamente apelidado de
“Tambor” (árvore em cujo perímetro se deu origem ao povoamento e a história da
comunidade); Santo Antonio, e o Conjunto CEHAP/Humberto Lucena – também apelidado
carinhosamente de “Sítio Siqueira”.
A fábula que deu origem
ao nome da comunidade Aliança
Segundo nos contou o Sr.
Edson Juvenal Martins “Edson Cabeção” figura icônica e um dos moradores mais
antigos da comunidade, esse nome (Aliança) está diretamente ligado a uma
fabulosa história de amor que se dá num cenário junino, haja vista que se
tratava do mês de junho, da década de 1960, quando um casal de jovens da comunidade estando às vésperas de se
casar são
surpreendidos pela perda da aliança do noivo. Aflito com tal fato, uma vez que os tempos eram difíceis, e sendo a aliança um artefato de difícil aquisição por
ser uma peça ornamental de luxo, uma joia, decidira o noivo pedir ajudar aos
seus ‘camaradas’ para que juntos pudessem procurar o anel do compromisso
refazendo o percurso feito pelo mesmo naquele dia.
Logo, o apelo do rapaz foi atendido pelos amigos, que empreitaram uma busca pela aliança perdida. O fato é que, tal acontecimento atraiu muitas pessoas para ajudar na procura que durou dias e a fio, porém, sem sucesso. A solução foi realmente mandar fazer outra aliança e o casório transcorreu em clima de festa. Contudo, a rua onde se deu o acontecimento acabaria por ser batizada por esta lembrança, seguindo o costume de dar nomes às pessoas e às localidades por aquilo que mais lhe identifica (um fato, uma personalidade ou um símbolo). Dizia- se então, “a rua da aliança perdida”. Seja na versão poética ou versão fática, o nome desta comunidade já nasceu forte pelo fato de que ocorre ali um agrupamento solidário de pessoas com uma finalidade e um propósito, ou seja, forma-se uma aliança.
Daí em diante, todos passaram a conhecer esta história ocorrida nos idos dos anos 1960 e 1970, e com o passar dos tempos, a “Rua da Aliança Perdida” passou a ser chamada apenas de “Rua da Aliança”, porém, nunca recebeu este título de fato, pois em seu batismo institucional (Lei Municipal) figura como Rua Assis Chateaubriand que também, não é o local exato aonde a história aconteceu, pois tudo ocorrera quando ali ainda não havia ruas definidas, e sim, casas salteadas.
O surgimento do Aliança
Futebol Clube e sua primeira Diretoria
Já na década de 1970, um
novo agrupamento de jovens atletas do futebol fez esse nome se fortalecer ainda
mais. Tanto que em vinte e três (23) de abril de 1974 dava a fundação o Aliança
Futebol Clube, sob o entusiasmo, a organização e o empenho dos senhores Hélio
Plácido de Almeida, advindo de outra parte da cidade - o centro, e que se
tornara o seu primeiro presidente, e Edson Juvenal Martins – “Edson Cabeção”,
que juntos com outros camaradas alavancaram a diretoria do time mais
organizado, de maior plantel de atletas (em qualidade e número), de maior
torcida (a única organizada e padronizada – a TOA – Torcida Organizada do Aliança), que
por três décadas: 70, 80 e 90 foi a
maior sensação do esporte cuiteense e da região, chegando a ser
registrado como agremiação, e a ter pleiteado a sua inclusão na Federação
Paraibana de Futebol, o que para a época seria algo inimaginável. Essa parte da história será contada no decorrer da série.
A
reafirmação do nome da comunidade como Bairro do Aliança
Nesse meio tempo a rua da
aliança já estava rodeada de outras tantas vielas, e de um aglomerado de
domicílios e famílias, podendo já se considerar como um bairro. Foi aí que o
time teve um papel importante para também modificar a história da comunidade,
pois a partir daí as pessoas passaram a fazer referência à agremiação
esportiva, certamente pelo destaque positivo que tomava, haja vista a sua
organização e as proporções de suas atividades, as quais chamavam a atenção de
toda a sociedade cuiteense. Logo se deu o rebatismo da comunidade – dizia-se: ‘o
bairro do time da rua da aliança’, que depois foi simplificado para o ‘bairro
do time da aliança’. O time inaugurou, portanto, uma nova era para a
comunidade, pois, de certa forma, do plano de fundo da estória das alianças
perdidas passa a dar lugar à agremiação que incorporava, personificava e
ressignificava o nome aliança, vindo a se consolidar como seu principal emblema
em todos os aspectos.
No final dos anos 1980 e
início dos 1990 houve um declínio acentuado das atividades esportivas e
culturais ali desenvolvidas, haja vista a decadência das atividades do Aliança
Futebol Clube – AFC, que passava por problemas internos, mas que persistia em
manter-se erguido, porém, sem a organização, a força e a intensidade de outrora.
Neste ponto da história da produção esportiva e cultural da comunidade abre uma
lacuna incomensurável, passando a dar lugar às “mazelas sociais”, que logo passaram a ser associadas à imagem do
bairro, passando a ser sinônimo de “malfazejos” que ocorriam na cidade. Uma
comunidade posta à margem da sociedade, rotulada de imprópria para se viver, e
até mesmo de se transitar por suas ruas.
Mas, nem tudo estava
perdido, pois foi justamente o nome e o exemplo dado naquele passado glorioso
que fez ressurgir novos líderes, novas forças, novas ideias. E esse não seria o
fim de uma história tão bonita. Tanto que no início dos anos 1990, no mês
agosto de 1992, para sermos exatos, eis que acontece mais um levante da
juventude apoiados pelos homens e mulheres de bem daquele bairro. Desta vez,
com muito mais responsabilidade, haja vista as dimensões territoriais da
comunidade, que eram bem maiores, sua diversidade cultural, e as persistentes
problemáticas sociais que, impediriam, em tese, que houvesse apoio a qualquer
tentativa de melhoramento de vida e da sua própria imagem.
De fato, não foi na
primeira tentativa que o grupo de jovens formado por Vanildo Araújo – ‘Peba’,
Daniela Dias, Elisangela Lúcia Martins – ‘Zanginha’, José Ivan Martins – ‘Nino
de Vanda’, Katiúscia Bezerra, Luciana Souza – ‘Galega de Zito’, que liderados
pelo jovem Dimas Ribeiro, conseguiu alcançar os seus objetivos. O coletivo
tinha a consciência de que iria assumir a difícil missão de resgatar as
tradições e a autoestima daquele bairro. E incorporou a responsabilidade social
passando a enfrentar o descrédito de grande parte dos moradores, pregando o
associativismo, o cooperativismo, e o envolvimento dos jovens na produção
cultural como uma saída para impor a valorização e o resgate da identidade
daquelas pessoas.
A
criação da Associação Cultural Jovens do Arraial
No mês seguinte ao primeiro
planejamento, isso no mês setembro de 1992, foi criada a Associação Cultural
Jovens do Aliança – A.C.J.A, funcionando em um espaço nos fundos do antigo “Bar
da Caça”, gentilmente cedido pela Sra. Francisca Barbosa “Francisca de Ananias”
(considerada patronesse da “nova revolução”). Este viria a ser o ponta-pé
inicial de tudo, mas, não seria ainda a redenção esperada, pois, apesar dos
inúmeros projetos e estratégias utilizadas, a exemplo de corais infantil e
adulto, grupos de danças, equipes e torneios de futebol (eram quatro equipe da
categoria infantil e juvenil) e as caminhadas ecológicas, que atraíam jovens da
comunidade e de outros lugares da cidade, não conseguia decolar devido a
ausência de incentivo e de cooperação. E
assim, a história segue em meio ao sentimento misto de pressão dos que
relutavam em desencorajar os entusiastas do projeto e da empolgação “dos
cabeças” que viam aumentar a cada dia o número de famílias que aderiam às suas
ideias. Famílias de todas as partes da cidade traziam os seus filhos (as) para
“entregar” às atividades da associação. E mesmo assim, ainda se despertavam os
olhares vesgos, pois só quem fazia parte das atividades era que tomava
conhecimento de como realmente funcionava o projeto, e que aquilo poderia dar
muito certo, caso os diversos setores da sociedade, inclusive o poder público
passasse a apoiar e fomentar os trabalhos da A.C.J.A. Era necessário expandir as
atividades para se alcançar a visibilidade necessária, e com isso se buscar
trazer a comunidade cuiteense para dentro do projeto ampliando as suas
possibilidades.
A
criação do Arraial do Aliança – A Festa de Pavilhão
Foi então que, entusiasmados
com os resultados satisfatórios dos microprojetos, aos poucos davam um novo
brilho à comunidade, buscavam um meio de ampliar pensavam em como despertar a
atenção da cidade para as suas ideias de desenvolvimento comunitário. E no dia
vinte de março do ano de 1994, quando estavam reunidos na esquina da
Chateaubriand com a Pedro Gondim, o grupo liderado por Dimas Ribeiro, Peba e
Nino, decidiu realizar uma festa típica, uma quermesse
junina. Nascia naquele momento um movimento que anos depois passaria a ser o
renomado Arraial do Aliança, que consistia na realização de uma festa de rua
nos moldes da tradição junina (inspiradas naquelas festas realizadas nos
terreiros das casas das pessoas da comunidade) acompanhada de quadrilhas
ensaiadas e marcadas no meio da rua.
O grupo acertou em cheio,
pois a comunidade era apaixonada pelos festejos juninos, e não se tinha festas
desse tipo aberta ao público, pois a prefeitura realizou por alguns anos o “São
João do Módulo Esportivo”, cuja última edição havia sido realizada no ano de
1989, algo que não se tornou tradição. E logo, a adesão dos populares da
comunidade foi total, cada um com a sua fogueira, com a sua bandeira junina e
os enfeites na porta de casa para atender à “Campanha: Enfeite a sua
Comunidade”. Realizou-se brilhantemente a festa durante três dias e três noites
(durante os festejos de Santo Antonio), no pavilhão com forró pé-de-serra,
comidas típicas, pau-de-sebo e outras brincadeiras, torneio de futebol junino e
sorteios de balaios, tudo gratuito e aberto à população, que também foi a
principal patrocinadora de tudo, cada um ajudava com o que podia, e ainda, a
“Quadrilha da Aliança” que em sua primeira formação, atingiu o número de mais
cem (100) casais de todas as idades, inclusive os idosos.
Nesse primeiro ano foi
notório o apoio de Francisco Nilton Melo “Nilton Peixoto” e sua esposa “Cida”,
os quais abriram as portas da sua casa que ficava localizada na Rua Pedro
Gondim (nos fundos da Escola Benedito Venâncio), ele morador do bairro, filho
do Sr. Manoel Peixoto (in memorian - morador da Rua Tomaz Campos que era
artífice de vassouras de palha e de agave), e que há muito tempo residia na
cidade do Natal aonde exercia a função de lanterneiro. E ela, dona de casa e
servidora do INSS. “Niltão” se engajou de corpo e alma no movimento do Aliança,
e por vários anos foi da linha de frente. O mesmo também foi um dos
responsáveis pela retomada das atividades do Aliança Futebol Clube, onde atuava
como zagueiro e como dirigente.
A inspiração para a criação do Arraial
da Serra
A Festa cresceu tanto, a
ponto de ser prestigiada por diversas personalidades, dentre eles, os
personagens do mundo político que frequentava assiduamente todas as noitadas de
festa no bairro, que agora era chamado de o “Bairro do Arraial do Aliança”, ou
“Bairro do Aliança”, desta feita, fazendo alusão ao famoso arraial – festa de
pavilhão e a quadrilha junina, inaugurando assim, mais uma ressignificação do
nome aliança. O fato é que a criação do festejo junino além de reacender a alma
da comunidade, também foi determinante para a cultura cuiteense, uma vez que,
inspirado nela, o então prefeito criou a festa municipal denominada de “Arraial
da Serra”, como ele mesmo fez questão de afirmar ao discursar na comunidade na
abertura da festa no ano de 2003. “Eu me inspirei no Aliança para criar o
Arraial da Serra” (...). Disse o prefeito. A partir daí o Aliança não parou mais de crescer, mas essa é outra história.
ASCOM/SAD.
Com Dimas Ribeiro ( Ex-Conselheiro Estadual de Cultura da PB e Liderança Local).