sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Nossa história: 'A Rua da Aliança', 'o Bairro da Aliança' e o 'Bairro do Aliança'.

Imagem Ilustrativa tirada da da internet
A Comunidade Aliança que antes era composta apenas pelos bairros 31 de Março e Santo Antonio – onde estão localizadas as antigas “Rua do Olho D’àgua”, “da Cadeia” e “do Matadouro”, hoje, ocupa o território formado pelos bairros Prefeito Jaime da Costa Pereira (antigo 31 de Março), Antonio Mariz – carinhosamente apelidado de “Tambor” (árvore em cujo perímetro se deu origem ao povoamento e a história da comunidade); Santo Antonio, e o Conjunto CEHAP/Humberto Lucena – também apelidado carinhosamente de “Sítio Siqueira”.

A fábula que deu origem ao nome da comunidade Aliança

Segundo nos contou o Sr. Edson Juvenal Martins “Edson Cabeção” figura icônica e um dos moradores mais antigos da comunidade, esse nome (Aliança) está diretamente ligado a uma fabulosa história de amor que se dá num cenário junino, haja vista que se tratava do mês de junho, da década de 1960, quando um casal de jovens da comunidade estando às vésperas de se casar são surpreendidos pela perda da aliança do noivo. Aflito com tal fato, uma vez que os tempos eram difíceis, e sendo a aliança um artefato de difícil aquisição por ser uma peça ornamental de luxo, uma joia, decidira o noivo pedir ajudar aos seus ‘camaradas’ para que juntos pudessem procurar o anel do compromisso refazendo o percurso feito pelo mesmo naquele dia.

Logo, o apelo do rapaz foi atendido pelos amigos, que empreitaram uma busca pela aliança perdida. O fato é que, tal acontecimento atraiu muitas pessoas para ajudar na procura que durou dias e a fio, porém, sem sucesso. A solução foi realmente mandar fazer outra aliança e o casório transcorreu em clima de festa. Contudo, a rua onde se deu o acontecimento acabaria por ser batizada por esta lembrança, seguindo o costume de dar nomes às pessoas e às localidades por aquilo que mais lhe identifica (um fato, uma personalidade ou um símbolo). Dizia- se então, “a rua da aliança perdida”. Seja na versão poética ou versão fática, o nome desta comunidade já nasceu forte pelo fato de que ocorre ali um agrupamento solidário de pessoas com uma finalidade e um propósito, ou seja, forma-se uma aliança.

Daí em diante, todos passaram a conhecer esta história ocorrida nos idos dos anos 1960 e 1970, e com o passar dos tempos, a “Rua da Aliança Perdida” passou a ser chamada apenas de “Rua da Aliança”, porém, nunca recebeu este título de fato, pois em seu batismo institucional (Lei Municipal) figura como Rua Assis Chateaubriand que também, não é o local exato aonde a história aconteceu, pois tudo ocorrera quando ali ainda não havia ruas definidas, e sim, casas salteadas.  


O surgimento do Aliança Futebol Clube e sua primeira Diretoria

Já na década de 1970, um novo agrupamento de jovens atletas do futebol fez esse nome se fortalecer ainda mais. Tanto que em vinte e três (23) de abril de 1974 dava a fundação o Aliança Futebol Clube, sob o entusiasmo, a organização e o empenho dos senhores Hélio Plácido de Almeida, advindo de outra parte da cidade - o centro, e que se tornara o seu primeiro presidente, e Edson Juvenal Martins – “Edson Cabeção”, que juntos com outros camaradas alavancaram a diretoria do time mais organizado, de maior plantel de atletas (em qualidade e número), de maior torcida (a única organizada e padronizada – a TOA – Torcida Organizada do Aliança), que por três décadas: 70, 80 e 90 foi a  maior sensação do esporte cuiteense e da região, chegando a ser registrado como agremiação, e a ter pleiteado a sua inclusão na Federação Paraibana de Futebol, o que para a época seria algo inimaginável. Essa parte da história será contada no decorrer da série.

A reafirmação do nome da comunidade como Bairro do Aliança

Nesse meio tempo a rua da aliança já estava rodeada de outras tantas vielas, e de um aglomerado de domicílios e famílias, podendo já se considerar como um bairro. Foi aí que o time teve um papel importante para também modificar a história da comunidade, pois a partir daí as pessoas passaram a fazer referência à agremiação esportiva, certamente pelo destaque positivo que tomava, haja vista a sua organização e as proporções de suas atividades, as quais chamavam a atenção de toda a sociedade cuiteense. Logo se deu o rebatismo da comunidade – dizia-se: ‘o bairro do time da rua da aliança’, que depois foi simplificado para o ‘bairro do time da aliança’. O time inaugurou, portanto, uma nova era para a comunidade, pois, de certa forma, do plano de fundo da estória das alianças perdidas passa a dar lugar à agremiação que incorporava, personificava e ressignificava o nome aliança, vindo a se consolidar como seu principal emblema em todos os aspectos.

No final dos anos 1980 e início dos 1990 houve um declínio acentuado das atividades esportivas e culturais ali desenvolvidas, haja vista a decadência das atividades do Aliança Futebol Clube – AFC, que passava por problemas internos, mas que persistia em manter-se erguido, porém, sem a organização, a força e a intensidade de outrora. Neste ponto da história da produção esportiva e cultural da comunidade abre uma lacuna incomensurável, passando a dar lugar às “mazelas sociais”, que logo passaram a ser associadas à imagem do bairro, passando a ser sinônimo de “malfazejos” que ocorriam na cidade. Uma comunidade posta à margem da sociedade, rotulada de imprópria para se viver, e até mesmo de se transitar por suas ruas.

Mas, nem tudo estava perdido, pois foi justamente o nome e o exemplo dado naquele passado glorioso que fez ressurgir novos líderes, novas forças, novas ideias. E esse não seria o fim de uma história tão bonita. Tanto que no início dos anos 1990, no mês agosto de 1992, para sermos exatos, eis que acontece mais um levante da juventude apoiados pelos homens e mulheres de bem daquele bairro. Desta vez, com muito mais responsabilidade, haja vista as dimensões territoriais da comunidade, que eram bem maiores, sua diversidade cultural, e as persistentes problemáticas sociais que, impediriam, em tese, que houvesse apoio a qualquer tentativa de melhoramento de vida e da sua própria imagem.

De fato, não foi na primeira tentativa que o grupo de jovens formado por Vanildo Araújo – ‘Peba’, Daniela Dias, Elisangela Lúcia Martins – ‘Zanginha’, José Ivan Martins – ‘Nino de Vanda’, Katiúscia Bezerra, Luciana Souza – ‘Galega de Zito’, que liderados pelo jovem Dimas Ribeiro, conseguiu alcançar os seus objetivos. O coletivo tinha a consciência de que iria assumir a difícil missão de resgatar as tradições e a autoestima daquele bairro. E incorporou a responsabilidade social passando a enfrentar o descrédito de grande parte dos moradores, pregando o associativismo, o cooperativismo, e o envolvimento dos jovens na produção cultural como uma saída para impor a valorização e o resgate da identidade daquelas pessoas.  

A criação da Associação Cultural Jovens do Arraial

No mês seguinte ao primeiro planejamento, isso no mês setembro de 1992, foi criada a Associação Cultural Jovens do Aliança – A.C.J.A, funcionando em um espaço nos fundos do antigo “Bar da Caça”, gentilmente cedido pela Sra. Francisca Barbosa “Francisca de Ananias” (considerada patronesse da “nova revolução”). Este viria a ser o ponta-pé inicial de tudo, mas, não seria ainda a redenção esperada, pois, apesar dos inúmeros projetos e estratégias utilizadas, a exemplo de corais infantil e adulto, grupos de danças, equipes e torneios de futebol (eram quatro equipe da categoria infantil e juvenil) e as caminhadas ecológicas, que atraíam jovens da comunidade e de outros lugares da cidade, não conseguia decolar devido a ausência de incentivo e de cooperação.  E assim, a história segue em meio ao sentimento misto de pressão dos que relutavam em desencorajar os entusiastas do projeto e da empolgação “dos cabeças” que viam aumentar a cada dia o número de famílias que aderiam às suas ideias. Famílias de todas as partes da cidade traziam os seus filhos (as) para “entregar” às atividades da associação. E mesmo assim, ainda se despertavam os olhares vesgos, pois só quem fazia parte das atividades era que tomava conhecimento de como realmente funcionava o projeto, e que aquilo poderia dar muito certo, caso os diversos setores da sociedade, inclusive o poder público passasse a apoiar e fomentar os trabalhos da A.C.J.A. Era necessário expandir as atividades para se alcançar a visibilidade necessária, e com isso se buscar trazer a comunidade cuiteense para dentro do projeto ampliando as suas possibilidades.

A criação do Arraial do Aliança – A Festa de Pavilhão

Foi então que, entusiasmados com os resultados satisfatórios dos microprojetos, aos poucos davam um novo brilho à comunidade, buscavam um meio de ampliar pensavam em como despertar a atenção da cidade para as suas ideias de desenvolvimento comunitário. E no dia vinte de março do ano de 1994, quando estavam reunidos na esquina da Chateaubriand com a Pedro Gondim, o grupo liderado por Dimas Ribeiro, Peba e Nino, decidiu realizar uma festa típica, uma quermesse junina. Nascia naquele momento um movimento que anos depois passaria a ser o renomado Arraial do Aliança, que consistia na realização de uma festa de rua nos moldes da tradição junina (inspiradas naquelas festas realizadas nos terreiros das casas das pessoas da comunidade) acompanhada de quadrilhas ensaiadas e marcadas no meio da rua.

O grupo acertou em cheio, pois a comunidade era apaixonada pelos festejos juninos, e não se tinha festas desse tipo aberta ao público, pois a prefeitura realizou por alguns anos o “São João do Módulo Esportivo”, cuja última edição havia sido realizada no ano de 1989, algo que não se tornou tradição. E logo, a adesão dos populares da comunidade foi total, cada um com a sua fogueira, com a sua bandeira junina e os enfeites na porta de casa para atender à “Campanha: Enfeite a sua Comunidade”. Realizou-se brilhantemente a festa durante três dias e três noites (durante os festejos de Santo Antonio), no pavilhão com forró pé-de-serra, comidas típicas, pau-de-sebo e outras brincadeiras, torneio de futebol junino e sorteios de balaios, tudo gratuito e aberto à população, que também foi a principal patrocinadora de tudo, cada um ajudava com o que podia, e ainda, a “Quadrilha da Aliança” que em sua primeira formação, atingiu o número de mais cem (100) casais de todas as idades, inclusive os idosos. 

Nesse primeiro ano foi notório o apoio de Francisco Nilton Melo “Nilton Peixoto” e sua esposa “Cida”, os quais abriram as portas da sua casa que ficava localizada na Rua Pedro Gondim (nos fundos da Escola Benedito Venâncio), ele morador do bairro, filho do Sr. Manoel Peixoto (in memorian - morador da Rua Tomaz Campos que era artífice de vassouras de palha e de agave), e que há muito tempo residia na cidade do Natal aonde exercia a função de lanterneiro. E ela, dona de casa e servidora do INSS. “Niltão” se engajou de corpo e alma no movimento do Aliança, e por vários anos foi da linha de frente. O mesmo também foi um dos responsáveis pela retomada das atividades do Aliança Futebol Clube, onde atuava como zagueiro e como dirigente.  

                          A inspiração para a criação do Arraial da Serra                                                                   

A Festa cresceu tanto, a ponto de ser prestigiada por diversas personalidades, dentre eles, os personagens do mundo político que frequentava assiduamente todas as noitadas de festa no bairro, que agora era chamado de o “Bairro do Arraial do Aliança”, ou “Bairro do Aliança”, desta feita, fazendo alusão ao famoso arraial – festa de pavilhão e a quadrilha junina, inaugurando assim, mais uma ressignificação do nome aliança. O fato é que a criação do festejo junino além de reacender a alma da comunidade, também foi determinante para a cultura cuiteense, uma vez que, inspirado nela, o então prefeito criou a festa municipal denominada de “Arraial da Serra”, como ele mesmo fez questão de afirmar ao discursar na comunidade na abertura da festa no ano de 2003. “Eu me inspirei no Aliança para criar o Arraial da Serra” (...). Disse o prefeito. A partir daí o Aliança não parou mais de crescer, mas essa é outra história.

ASCOM/SAD. 
 Com Dimas Ribeiro ( Ex-Conselheiro Estadual de Cultura da PB e Liderança Local).